A menina que ventava morava no apartamento debaixo. Da janela da sala podia vê-la todas as manhãs na varanda, de sutiã e short. O sutiã guardava um nada de juventude florescente, que mal marcava a blusa. Depois eu a via saindo pelo portão do prédio, de uniforme. O perfume dela cheirava à brisa da manhã e conseguia escalar o prédio até minhas narinas.
Segunda-feira passada trabalhei até tarde e, na terça, acordei tarde demais para vê-la de sutiã na varanda. Desci para comprar o jornal e a vi na banca, uma saia esvoaçante. A menina. Bom-dia. Sorriu, levantando um vendaval de borboletas dentro de mim. Às vezes podia jurar que entre encontros provocados pelo acaso podia ver um esboço de sorriso e um brilho em seus olhos entre um bom-dia e outro.
O desejo de ter a menina. De olhar o que há debaixo do sutiã da menina. Tocar cada centímetro da pele da menina. Vento frio, arrepio.
Ontem ela passou o dia em minha casa. A mãe não sabia. A diferença de idade não era o motivo do desejo, mas confesso, só aumentava. Mas a verdade é que o que mais me fascinava na menina ventania era que ela conseguia controlar tudo, era a pressa que ela tinha para viver momentos, como se tivesse no bolso uma lista de momentos a serem vividos. Ah a menina!
Ela sentou-se no meu colo, sorrindo e deixando seu aparelho rosa a mostra. O sorriso inocente era o meu. Ela também tinha o poder de me controlar. De me refrescar feito brisa pra depois me devastar como um furacão. Encostou a cabeça nos ombros meus e me contou o seu segredo. Ela era dona de tudo. Da chuva e do vento. E podia fazer o que quisesse. Era dona. A menina, minha vizinha. Me beijou. Me abraçou. Abusou de mim de todas as maneiras possíveis.
Tinha treze anos e deitou na minha cama. Tirou o uniforme sem que eu pedisse. Os cabelos rolavam pelos ombros, como que ganhando vida própria. A menina e seus cabelos que eu via todas as manhãs, flutuando ao vento, indo para a escola.
Abriu o zíper da calça. A menina, que ainda tinha bonecas no quarto. Tudo sem que eu pedisse. As borboletas só se atiçavam mais e mais. Os pelos que nem tinha e se arrepiavam com as minhas mãos grandes de homem adulto. E eu lembrava dela no domingo, entrando no carro do tio, o vento levantando a saia. Sua calcinha branca, a mesma que usava naquele dia.
O corpo branco da menina iluminado pela luz do sol das três horas da tarde que invadia meu apartamento pela janela. O vai-e-vem. Vem, menina. Ela não falava nada, e eu tinha medo de falar alguma coisa. De fazer a menina ir embora. Apenas suspiros. De prazer, de dor, não sei. Suspiros.
E quando aquele momento de silencio acabasse? Quando a menina fosse embora? Quando ela contasse para as amigas? E se... O ritmo só acelerava. E a menina suspirava. Ela era leve, parecia feita de vento. Vento forte que me levava.
Com a cabeça sobre o meu peito, tentei ainda falar alguma coisa, mas a menina shhhiiiiii. Sorriu com os olhos. Depois se levantou, pegou a calcinha branca no chão. E no dia seguinte estava ela na varanda de novo. De sutiã, de short, com uma caneca na mão. Eu olhando pela janela, ela me viu. Apontou para o céu. Vai chover hoje. – Disse. Mas não tinha nenhuma nuvem.
E choveu. Porque ela quis. Cinco horas da tarde e a menina voltou da escola, com a roupa molhada, nem passou em casa. Subiu correndo as escadas e antes que chegasse à minha campainha eu já tinha aberto a porta.
A roupa molhada no chão da sala. Eu com minha menina no sofá. Tínhamos ainda uma hora e meia antes que a mãe dela voltasse do supermercado. E o temporal que não parava.
4 Recados:
aaaaaaahhhhhhhhhhhhhh....
gente... isso pq vc não estava inspirada...
liza... incrível! Que sutileza...!
estou horas tentando escrever algo que preste... mas não sei ser leve como você... não sei fazer as pessoas sonharem ou imaginarem sem contar detalhes ...
nossa... incrível...
parabéns!
rafa
i'd like to put you in a trance....
E nesse "vai-e-vem. Vem, menina" e faz ventania em quem lê.
Parabéns!
Eis a pessoa!
P.S.: Vim pensando em agradecer o comentário, mas você me desarmou com esse texto! Sim, eu sou daqueles que dizem, que falam mais do que deve, e vou dizer, porque sensibilidade não se mede, se sente, e naquilo que sente, naquele que sente, alguma coisa faz despertar, e uma coisa começa a girar. Ainda é tontura o que eu sinto, talvez o que sintas, mas é um despertar, e disso não há quem duvide. Não tendo despertado de algum modo, de algum sono, a criança olha ao redor e pensa, sem saber: Este é um novo lugar!
Obrigado!
Postar um comentário