Mostrando postagens com marcador Solidão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Solidão. Mostrar todas as postagens

Faço só. Faço Sol.


Quando acaba o encanto e o entusiasmo de "nós", entra a singularidade solitária do "eu".


E se não fosse esta vontade inquieta e gulosa de ser feliz, já teria entregue tudo nos braços desta que me acompanha dias a fio, sem se cansar de mim, sem me abandonar... Esta solidão.

Nossos erros foram vitais e nosso livro não chegou ao fim. Fechamos a página quando líamos a última frase do capítulo cinco. O último ponto final que vi, pontuava a palavra sozinha.

Nossa música pausou. E no silêncio que agora há, percebo que já estávamos sós, com nós e eram muitos nós!

Talvez a solidão pague a conta desta vontade de terminar o livro. E talvez, ela te faça encontrar suas asas. Juntei todas as penas que sentia de mim e bati minhas asas.

Trago a solidão agarrada neste meu coração que cabe tanto sentir em vão.

E eu quero o Sol. Vôo e vôo alto.

Voando só, batendo minhas asas.

Tudo que hoje desejo, faço só.

E se não ver a luz e não sentir o calor, eu faço o Sol.



Eterna solidão

Meus olhos se fecharam para tentar conter as lágrimas, mas foi inútil. Faixas grossas e rubras cortaram o meu imaculado rosto lamentando a sua partida. Como é possível esquecer essa dor em tão pouco tempo? Há tanto conhecimento e sabedoria dentro de mim que às vezes sinto como se eu fosse explodir. Mas mesmo assim, eu continuo esquecendo a terrível dor de perder alguém. Essa lição eu ainda não aprendi.
Poder, força, dinheiro e a vida além de qualquer compreensão. Sou aquilo que muitos gostariam de ser. Pobres infelizes, não sabem que eu seria capaz de qualquer coisa para estar no lugar de vocês. Não fazem idéia de como é passar ano após ano, década após década...(suspiro). Século após século e continuar sendo a mesma coisa vazia.
Como é difícil superar o fato de perder alguém. Não é a primeira vez, não será a última. Farei isso ao longo dos séculos, assim como tenho feito. Caminhando nesse mundo como um ser errante, amante. Não me lembro da minha origem, não faço a menor idéia de qual é o meu destino. Apenas caminho, alheio a qualquer coisa. Preencho meu coração com amores passageiros, que sempre irão ficar ao longo do meu trajeto. E a cada amor perdido, eu choro e lamento pelo vazio que fica dentro do meu peito. Eu poderia evitar essa sensação e seguir minha jornada sem me envolver com ninguém, mas confesso que nem mesmo eu sou forte o bastante para viver dessa forma. Quem conseguiria viver dessa forma?
Você se foi e preciso enxugar as lágrimas; tirar o sangue que mancha o meu rosto. Preciso descansar o corpo para o amanhecer que se aproxima; preparar meu peito para ocupá-lo com um novo amor. Mas essa noite, não. Essa noite serei aquilo que sempre sou quando perco um amor... Um ser imortal, incapaz de ter uma vida ao lado de alguém. Um vampiro destinado a caminhar ao lado do tempo, deixando as coisas que ama para trás. Uma criatura sozinha. Vazia. Oca!

Faber Castell


Me dei conta que poderia viver perfeitamente bem sem sexo. Perfeitamente? Não que não sinta falta, até sinto. A falta é o meu mal maior. Sinto falta até de dor, às vezes. Mas a verdade é que, se pudesse, trepava todo dia. Estaria trepando agora se ela estivesse aqui. Ela fala “fazer amor”, mas eu acho isso uma palhaçada. Tudo bem que até pode servir para colorir um pouco a coisa toda e a cena de nós duas ali peladas em cima de uma cama suja de motel barato não parecer uma simples trepada de sábado a noite. Aliás a única coisa que ela sabe fazer é colorir.

Colorir até é legal. As coisas coloridas são sempre mais bonitas. O mal é que o colorido dela às vezes fica meio borrado. Dá vontade de apagar. Bebo vinho para passar uma borracha nas coisas. O mal é a dor de cabeça no dia seguinte deixando tudo ao redor num tom cinza meio morto.

Ando achando que desaprendi a viver sozinha. Quando me vejo sozinha decoro um poema ou canto uma música mentalmente. Mas agora para apagar um pouco essa solidão eu pensava nela. Se bem que não sei ao certo se pensava nela para não sentir a solidão ou se pensava porque não conseguia não pensar.

A gente nunca fica só, só sentindo solidão. Sempre tem alguma coisa para pensar, um pensamento para acompanhar a gente. Sempre tem um problema atormentando. Ou uma lembrança boa que surge sem pedir licença. Não consigo separar pensamento de sentimento. Acho isso um defeito. Pensar demais, às vezes, me deixa opaca.

Acho que cochilei sem me dar conta disso. Acordei e não pensava em mais nada. Lembrei de uma música da Legião Urbana. Sempre que pensava em solidão me lembrava dela. Depois me lembrei do jingle de um comercial qualquer. E o jingle dominou minha mente como uma droga. Droga de musiquinha que gruda na cabeça!

Às vezes sentia necessidade de fazer ausência. Por isso descartava coisas e pessoas facilmente. Gostar e desgostar para mim era quase um passa-tempo. Era não, sempre foi e ainda é. Isso para mim sempre foi fazer ausência, nunca soube chamar de outra coisa. Fazer ausência é deixar-se parede descascada, precisando de tinta. Fazer ausência não precisa ser ausentar-se dos outros, não simplesmente fazer-se ausente para os outros. Fazer ausência é se esvaziar de amor. Às vezes até de amor próprio, quando não sobra mais amor a nada. O que eu queria mesmo era alcançar era o estado de presença. Nunca fui presente: imediata, ativa, pessoa momentânea. Nunca.

De uns dias para cá, me senti bege. Bege é cor de gente séria, gente racional, gente que coloca coisas em ordem. Gente que pesquisa o significado das palavras no dicionário, mas não consegue sentir o sabor delas. O bege não tem gosto de nada. Senti falta de um amarelo sol. De um vermelho sangue, um azul borboleta, um preto tesão. Do branco do sutiã dela. Me dá um giz de cera, por favor. Pega essa merda de aquarela pra mim!

A solidão me consome em bege. Cor feia da porra! Resolvi ligar para ela. Disquei o número, mas percebi de repente que só precisava de um lápis de cor.

Renúncia


Pertenço ao ventre órfão da saudade
Apenas observo a queda
Angustio curvas da consciente agonia
Alivio acenos e sussurros
Este chão encarde as percepções
Neste chão perambulo meu ócio
Sinto falta do concreto absurdo
Guardo-me íntegro feto do ventre só

Renuncie a negatividade da posse?

Optar tecer folhas nos olhos alheios
Se pensar ausência de outros,
Lhe diria estar pintando novas espécies
Daí rompendo as certezas
Severo em atitudes
A intuição distante:

A solidão explica os versos.