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Rico rico de marré de si. Tinha tudo o que queria ter. Tendo já seu lugar ao sol, acreditava que ir à igreja no domingo era a garantia de uma vaguinha no céu. Até que um dia tudo se foi.

Os sorrisos não passavam de fotografias queimando e desfigurando de pouco em pouco as alegrias congeladas. O que você sente quando fica pobre de tudo?

Se viu sentado no meio-fio, de frente para o espaço onde ficava a sua casa. Um sentimento, que talvez fosse ódio, começou a subir pela garganta. Sentiu pena de si mesmo pela primeira vez. Se perguntava o que meu Deus! tinha feito para merecer aquilo. Viu a fumaça que ainda saía dos destroços dançando no ar. Ficou por muitos minutos hipnotizado pelo balé cinza da fumaça. Olhou para o céu de poucas estrelas. E de repente se lembrou de estar domingo na igreja e, sem ainda entender, sentiu vontade de dizer:

- Isso nunca foi meu.

Pobreza ou Nobreza


Acho que nunca estive perto da pobreza. Concluí isto quando comecei a procurar uma imagem para postar no blog, sem antes mesmo ter escrito algum texto.

A minha idéia inicial para o texto sobre a pobreza era traçar um paralelo entre a pobreza espiritual e a pobreza material e, de certa forma, mostrar que são mais pobres os que não têm grandeza espiritual...
Mas, ao me deparar com esta imagem que escolhi, desisti. Porque, também concluí, que eu não tenho nenhuma grandeza de espírito para compreender esta desigualdade.

Já reclamei de fome sem nunca a ter sentido. E vivo insatisfeita com minhas conquistas, com meus sapatos que nunca acho suficientes para ir às festas, às reuniões, ao trabalho, aos almoços e jantares. Almoços e jantares que, certamente, as migalhas da minha mesa, seria farta ceia no estômago vazio deste menino.

Sinto-me envergonhada. Sinto-me impotente.

A imagem mostra os seus pés. Seus nobres sapatos foram produzidos com garrafas plásticas e tecidos velhos. São seus pés... Tão fixos no chão, como os pés de quem não quer voar. Não pode voar.

Meus olhos já lacrimejando, choram as lágrimas de quem se sente culpada por carregar este meu sorriso sem vergonha de quem nunca notou a sua dor. Enxergo seu rosto cansado, com fome de pão, com fome de atenção, com fome de amor. Seus olhos me imploram um pouquinho de mim, da minha compaixão e o mundo que eu sempre tive nas mãos, desabou.

Nobreza é andar de pés no chão.

Voar rasteiro a terra sem almejar o céu como a última estação.
Ser nobre é ter olhar doce enquanto o organismo está em guerra pela falta de pão.
E talvez, pobreza de espírito, seja julgar-se bom, nobre e cheio de compaixão quando na verdade nem se sabe o que é, de verdade, triste e ruim.

Você não me conhece

A gravata bem feita e a camisa de gola engomada podem te levar ao equívoco. Algumas coisas podem ser ditas através de uma rápida observação, outras não.

Sei como a lâmina do frio corta. Minha pele foi cortada inúmeras vezes por esse metal. Também sei como o ronronar da fome dói, pois ficar horas sem comer não é nada para quem passou dias. Talvez você saiba como é ruim andar algumas quadras com um sapato apertado, mas experimente caminhar meses sem um calçado no pé.

Calos, bolhas, cortes, assaduras. Dores. Você não sabe o que é sentir dor, eu sei! Eu passei por coisas que você jamais imaginou.

Não se iluda com o meu cabelo penteado e o cheiro do perfume que sente ao cruzar comigo no corredor. Você não me conhece. Não pense que cheguei aqui por sorte.

Roubei, pois tinha fome, frio, sede. Nunca tive dinheiro nas mãos para me livrar desses fantasmas. Se não estudei na hora certa, foi porque não tive a oportunidade. Mas nada disso é capaz de ditar meu comportamento. Não me venha com essa de destino. O destino é refúgio para fracos que não têm coragem de mudar sua própria condição. Eu lutei, eu me esforcei. Eu venci! Mudei aquilo que você diria ser o meu destino. Minha escolha foi deixar de ser pobre.

Supletivo, cursos públicos, dedicação e garra. Decidi mudar minha vida, e foi assim que superei o frio, a fome e a sede. Foi assim que conquistei um teto e não um concreto qualquer para ficar entre meus olhos e a poluição do céu.

Pensa que o carro que dirijo foi presente do meu pai? Acha que a casa que tenho foi feita por um arquiteto famoso? Não se precipite.

Meu passado me fez ser quem sou hoje. Então, não me julgue antes de ver os calos em minhas mãos e as cicatrizes nos meus pés. Você não me conhece.

Pauper




















Daquela casa ouvia-se apenas os gritos
De um medo que sempre penetra
Entregam pois, as folhas abertas despidas de esperança
E gemem os pratos suspensos de nada colorido
Assim celebram-se as manhãs
De mãos rasgando a nudez de corpos magros
Recolhendo a surpresa da fome por ossos

Ainda não aprenderam a morder a língua e gritar pra dentro
Errei ao dar luz crias
Perpetuando sementes minguadas
Deixo o cansaço os criar

Sobre tijolos em falso
Nos basta não ter
De línguas e dentes cultivam miséria
Rezam os grandes nos próprios umbigos
Ninando a distancia que pesa

Com os pequeninos
A noite apaga o branco
Puxo destas verdades incoerentes
Faço aliança a impotencia

Da tua lágrima se enxerga o mundo.