on/off

A webcam estava offline. Mas decidi deixar ele saber que eu também tinha uma câmera. Ele de imediato pediu que eu a ligasse. Hesitei... Logo ela estava ligada. A dele sempre estivera. Porém a penumbra não me deixava ver muito além da metade de um rosto marcante e um meio olhar sedutor.A luz do quarto estava sempre apagada.

Essa noite o desejo pedia mais. As luzes foram acesas e pude ver mais que o meio rosto e o meio olhar. Agora via também um ombro largo e forte. Ele ajustou a câmera para que eu pudesse ver o abdômen bem delineado, com ondulações conseguidas com exercício. Disse que não. Por enquanto não queria ver mais que isso.

Ele me pediu pra ver o meu corpo. Ele pode ver mais do meu corpo. Na verdade o pedido tinha tom de ordem. As ordens seguiam de uma forma que aumentava o meu desejo. Ele disse que já estava excitado. Era melhor parar, mas a o meu desejo era fazer tudo o que fosse preciso.

Não hesitei mais... estava lá, ele estava aqui. Eu fazia o que ele mandava, ele fazia o que eu pedia.

Viva as novas experiências



Acordou desesperado e nu. Suas roupas jogadas no chão. Observou que a porta estava entre aberta e se sentiu desprotegido. O tempo estava claro, já era dia. Ouvia uma música, mas não sabia de onde vinha. Reparou que sobre sua cueca havia um recado que dizia: Viva as novas experiências! O valor que ela me cobrou não chegou perto do que você me proporcionou. Ela, a sua novidade, você, a minha.


O motorista ficou pronto. Estava de calça jeans escura, tênis branco e uma camisa larga. O cabelo não necessitava de pente, bastava passar as mãos e estava pronto. Estava nervoso com seu primeiro encontro feito às escuras. Não conhecia o local, nem a pessoa. A expectativa de não saber nada era excitante. Viu apenas fotos. Há muito, mesmo que não precisasse pagar alguém para transar, essa odisséia fazia parte de seus planos. Tudo foi tratado de uma forma muito profissional. Numa única ligação tudo foi acertado.


Chegou mais cedo ao local marcado. Não subiu e preferiu dar mais uma volta. Atrasou propositalmente cinco minutos. Respirou fundo e tocou o interfone. Assim que ouviu o som da porta quando fechou, o motorista virou-se e a viu com todos os detalhes que as fotos não mostraram. O lugar não cheirava a sexo, como pensara. Tinha o perfume dela. Não sabia dizer se era bom ou ruim, mas o excitava. A prostituta sorriu e disse nunca ter recebido um cliente tão belo. Agarrou-o pelo pescoço e ele sentiu o cheiro doce de seu batom. Segurou suas pernas com as mãos e apoiou as costas dela contra a porta. Ela usava saia e não parecia vulgar. Uma mão pesada e masculina tocou seu ombro. O motorista desvencilhou sua boca da dela e ela encostou os pés no chão. Aos poucos ele virou seu corpo e viu seu patrão, ali, parado em sua frente vestindo uma calça jeans e com o peitoral pouco peludo a mostra. O motorista sorriu, não questionou sua presença e disse que não dividira a mulher. Mas quem disse que ‘seu patrão’ queria a mulher? (...)


A prostituta se encontrava na mesma posição que o motorista a tinha deixado. Ela segurou os dois pelas mãos e pediu pra que ficassem apenas de cueca deitados na cama. Ela lentamente começou a tirar peça por peça das roupas que vestia. A cada peça ela dava uma ordem. O motorista estava fascinado por ela, e obedecia sem questionar. Ela era sexy e segura de si. Todas as coisas funcionavam como num círculo vicioso (...).


Ele esquecera a família, os filhos e inclusive sua esposa – anos dormindo com a mesma mulher – pensou o motorista. O patrão parecia enlouquecido com sua presença e não observava a sensualidade daquela bela loira. O motorista não entendia por que ‘seu patrão’ o beijava no pescoço, alisava seus cabelos, acariciava seu corpo. Mas não reclamou, estava um clima gosto so e excitante. Para seu patrão ele era o prato principal, a prostitua apenas um subterfúgio.


Ao ler o recado, um filme da noite anterior passou pela sua mente. Desejou que aquelas horas voltassem para que pudesse reviver o prazer de ser o centro das atenções. Não há nada mais excitante!

Corpo e voz




A casa estava vazia, num silêncio empoeirado. Entre os contornos turvos da meia-luz, tateava um recanto para o corpo. Joguei as chaves, soltei o cabelo e já com os pés despidos repousei num vão entre os móveis, sobre um tapete escuro. Percebi meus lábios traçarem um sutil sorriso -- Pequenos prazeres — pensei – que ingênua delícia. O corpo frouxo se entregava ao chão sem reservas.
Enquanto o corpo repousa, a mente remonta fatos, suscita certas lembranças e por um instante revive pequenos flashes, até eles serem dissipados por aquele silêncio amarelado.
Porém, algo reage a meu corpo, um ruído seco a desviar meu olhar cego. Sei que estou sozinha, por isso num primeiro momento me rendo ao devaneio. Mas de novo vem esse timbre. Meu coração acelera—O que será isso?—Não ouso abrir os olhos, espero bem quieta.
Tento reconhecer o dono da voz, nada, minha respiração abafa os sussurros que nada falam. Meus olhos não ousam abrir, não ousam, não ousam... A voz me toca! Fico gélida, num pavor que só o impossível pode conceber. Aquele timbre vai me tocando até me despir nota a nota. Meus olhos não ousam entender, mas meu tato vai percebendo e compreendendo cada tênue roçar, cada oscilação, cada atrito tenso ou impreciso.
Ele me tem, eu tenho medo. Mas tão inebriada por minha própria pele e por aquilo que meus ouvidos teimam escutar me converto em sim. O timbre se mistura a boca, corpo e mãos. Os barulhos abafados, que se convertem em voz e respiração, comungam com ele. Sou eu, agora, também som... Ele agora também é corpo, e naquele instante despidos de mundo somos um.

Rascunho: Sem título


A menina que ventava morava no apartamento debaixo. Da janela da sala podia vê-la todas as manhãs na varanda, de sutiã e short. O sutiã guardava um nada de juventude florescente, que mal marcava a blusa. Depois eu a via saindo pelo portão do prédio, de uniforme. O perfume dela cheirava à brisa da manhã e conseguia escalar o prédio até minhas narinas.


Segunda-feira passada trabalhei até tarde e, na terça, acordei tarde demais para vê-la de sutiã na varanda. Desci para comprar o jornal e a vi na banca, uma saia esvoaçante. A menina. Bom-dia. Sorriu, levantando um vendaval de borboletas dentro de mim. Às vezes podia jurar que entre encontros provocados pelo acaso podia ver um esboço de sorriso e um brilho em seus olhos entre um bom-dia e outro.


O desejo de ter a menina. De olhar o que há debaixo do sutiã da menina. Tocar cada centímetro da pele da menina. Vento frio, arrepio.


Ontem ela passou o dia em minha casa. A mãe não sabia. A diferença de idade não era o motivo do desejo, mas confesso, só aumentava. Mas a verdade é que o que mais me fascinava na menina ventania era que ela conseguia controlar tudo, era a pressa que ela tinha para viver momentos, como se tivesse no bolso uma lista de momentos a serem vividos. Ah a menina!


Ela sentou-se no meu colo, sorrindo e deixando seu aparelho rosa a mostra. O sorriso inocente era o meu. Ela também tinha o poder de me controlar. De me refrescar feito brisa pra depois me devastar como um furacão. Encostou a cabeça nos ombros meus e me contou o seu segredo. Ela era dona de tudo. Da chuva e do vento. E podia fazer o que quisesse. Era dona. A menina, minha vizinha. Me beijou. Me abraçou. Abusou de mim de todas as maneiras possíveis.


Tinha treze anos e deitou na minha cama. Tirou o uniforme sem que eu pedisse. Os cabelos rolavam pelos ombros, como que ganhando vida própria. A menina e seus cabelos que eu via todas as manhãs, flutuando ao vento, indo para a escola.


Abriu o zíper da calça. A menina, que ainda tinha bonecas no quarto. Tudo sem que eu pedisse. As borboletas só se atiçavam mais e mais. Os pelos que nem tinha e se arrepiavam com as minhas mãos grandes de homem adulto. E eu lembrava dela no domingo, entrando no carro do tio, o vento levantando a saia. Sua calcinha branca, a mesma que usava naquele dia.


O corpo branco da menina iluminado pela luz do sol das três horas da tarde que invadia meu apartamento pela janela. O vai-e-vem. Vem, menina. Ela não falava nada, e eu tinha medo de falar alguma coisa. De fazer a menina ir embora. Apenas suspiros. De prazer, de dor, não sei. Suspiros.


E quando aquele momento de silencio acabasse? Quando a menina fosse embora? Quando ela contasse para as amigas? E se... O ritmo só acelerava. E a menina suspirava. Ela era leve, parecia feita de vento. Vento forte que me levava.


Com a cabeça sobre o meu peito, tentei ainda falar alguma coisa, mas a menina shhhiiiiii. Sorriu com os olhos. Depois se levantou, pegou a calcinha branca no chão. E no dia seguinte estava ela na varanda de novo. De sutiã, de short, com uma caneca na mão. Eu olhando pela janela, ela me viu. Apontou para o céu. Vai chover hoje. – Disse. Mas não tinha nenhuma nuvem.


E choveu. Porque ela quis. Cinco horas da tarde e a menina voltou da escola, com a roupa molhada, nem passou em casa. Subiu correndo as escadas e antes que chegasse à minha campainha eu já tinha aberto a porta.


A roupa molhada no chão da sala. Eu com minha menina no sofá. Tínhamos ainda uma hora e meia antes que a mãe dela voltasse do supermercado. E o temporal que não parava.


Primeiro,
eu entro pela sua boca;
esôfago me aperto em teu peito
em ácidos, me deito e dissolvo
e o corpo que me engole, é meu leito
segundo, mil pedaços de mim mesmo.
Resolvo que não sou mais quem eu era
e a fera, que se afoga em meu peito, é resto.
E destina rumo ao reto.
Terceiro, saio assim pela dos fundos,
"tem gente!" grita a moça apavorada.
Me encontro novamente neste mundo;
E através de ti, a nova estrada.
O quarto, é o lugar da longa ceia;
lá onde insisto em ser devorado
Em ti, além de tu, em tuas veias.
E através de ti, um novo estado.

Ciclo meu

Sou água.

Transpiro em você

Quando me bebe.

Mergulho.

Novamente

Estou em você

Sou nuvem.

Caio sobre você

Como chuva.

Te hidrato.

Sou gelo.

Estou em você

Como pedra,

Me cristalizo.

Sou rio.

Moldo você.

Levo você.

Renovo você.

Sou transparente.

Me vejo em você.




Attempting The Imposible, pintura de René Magritte, suscita como tema a figura do artista. A obra de arte sempre será maior que o artista, mas é pelo artista que a obra se configura. “Alguns homens vêem as coisas como são, e dizem: Por quê? Eu sonho com as coisas que nunca foram e digo: Por quê não?”, assim disse o dramaturgo irlandês, Bernard Shaw, é essa a postura do verdadeiro artista, que não teme se lançar no poético.
A arte tem suspensão do real em nome da criação, e isso fica evidente deste quadro, é como Shaw nos diz “Por que não?”. O manifesto surrealista também constrói essa idéia: “Não será o temor da loucura que nos forçará a hastear a bandeira da imaginação a meio pau”. Tudo nos é permitido na arte, e é por isso que ela é tão fascinante. Michel Foucault já colocava que “A ficção consiste não em fazer ver o invisível, mas em fazer ver até que ponto é invisível a invisibilidade do visível.”
Essa estância dá ao artista um poder especial, é ele quem usufrui primeiro dessa morada mítica. É pelas mãos dele que se faz aparecer o que até então não existia, para além de um simples artesão, que cria algo que em seu plano original é positividade, mas na exatidão de “poeta” pode continuar no negativo. Depois de citar Giorgio Agamben : “quem apreende a máxima irrealidade, plasmará a máxima realidade” posso pausar esse diálogo ousando citar Manuel de Barros: “Há histórias tão verdadeiras que ás vezes parece que são inventadas.

Pensando arte I: "Metamorfose Ambulante - Imaginação e Transformação"

Desmentir:

A obra não é gerada pela demanda da platéia, nem pelo gênio do artista, nem pela reflexão da realidade externa a ela mesma, mas pela conciliação de homem e natureza. E eis aqui o motivo de os artistas não terem lugar na República. A teoria platônica fundamentada na construção da República perfeita funda a concepção que insiste até hoje no Ocidente da ruptura primordial que deu origem a tudo o que existe, em que Bem e Mal, Ideal e Sensível, razão e paixão, vida e morte, homem e natureza são concebidos como vetores opostos. Sendo assim, a arte, que não trabalha com outro princípio senão o do paradoxo de união dos contrários, é um princípio de caos que não encontra seu lugar no mundo platônico-ocidental. A natureza e o artista, o Bem e o Mal, o divino e o terreno se conciliam em obra de arte, que não reflete o universo externo, mas cria um universo novo, enquanto transforma o experienciador deste novo mundo. Nem o mundo nem a platéia nem o artista são mais os mesmos depois da obra de arte.

A lâmpada:

O mundo só faz sentido se percebido. No entanto, literatura não se institui apenas como percepção de mundo, mas como construção do mundo. A literatura como perspectivação que propõe a suspensão de uma realidade para assumir outra não passa da lixeratura, a arte acontece na própria percepção do mundo pelo artista. O sujeito que percebe o mundo e consegue moldar e agir ativamente com este mundo, fazendo parte dele e não o admirando como paisagem inerte em um quadro bonito, este é o poeta. A imaginação age como transe entre o interior e o exterior. O artista olha para fora de si e percebe que o que é nunca é, mas tem a possibilidade de ser. A obra de arte é gerada pelo ir-e-vir do intercâmbio do homem, que percebe o mundo a seu redor, e do mundo, que realiza esta troca com o homem. É a partir dos sentimentos e pensamentos do artista que a obra surge como potência que necessita ser emanada para fora, chegando a um possível leitor, a uma possível platéia, que é atingida por sua luz refletora e se alegra em êxtase.

A busca de nós mesmos:

A reflexão de quem somos, na busca de um eu que não se faz conhecer, isto é, inobjetivável, traduz o relacionamento da imaginação e da razão. A imaginação busca nas profundezas do objeto visto pela razão o antecedente à objetivação. O poeta lírico experimenta no ato auto-reflexivo a origem do seu desdobramento em eu-sujeito e eu-objeto, ou seja, a gênese do seu próprio ser.

O ator que se faz em mil e um personagens tentando encontrar o seu personagem primordial:

O eu-sujeito de Fichte é traduzido no poeta transcedental de Novalis, numa anterioridade como condição de possibilidade para o desdobramento em múltiplos eu-objetos. A razão não basta porque não transpõe o limite do eu-objeto pensado, só a imaginação é capaz de mergulhar no inobjetivável, de fazer a viagem “aos confins da terra ou aos reinos cósmicos do inferno, do purgatório e do paraíso”[1], à terceira margem do rio, a que o poeta transcendental se dispõe. O horizonte é a imagem perspectivada do objeto racional. O além horizonte é a experiência imaginativa de construção do não-visto, é a experiência do infinito. Sabendo que a vida é muito mais do que vemos dentro de nosso limite racional, como conhecer o que não vemos? Como alcançar o que foge ao nosso limite? Somente com a imaginação podemos fazer este percurso.


Imaginação:


A imaginação, fonte propulsora e inesgotável de toda objetivação, age no poeta transcendental para a multiplicação de suas personalidades. O poeta vive a experiência incessante de auto-criação, se despersonalizando para personalizar outros eus. O impulso propulsivo imaginante vai contra a inércia da objetivação do ser. A fantasia transcendental integra a natureza ao eu e o eu à natureza, assumindo ambos como um só organismo vivo. A arte funciona como força de vínculo e o vínculo em si é a imaginação.


O homem e o mundo:


Na poesia de Coleridge e Wordsworth, homem e mundo se correlacionam em movimento constante de reciprocidade, que festeja a singularidade da vida. A força que anima o mundo fora do homem é a mesma que age dentro do homem. Todo o cosmos é animado pelo mesmo entusiasmo. As imagens poéticas tornam concreto este elo vital, trazendo a terra como cenário que interage com a mente humana. O poeta é capaz, através do intercâmbio com a natureza, de poematizar sua existência, gerando seu próprio sentido e valor.


O homem, o mundo e a arte:


Para Coleridge, a alegria interior ao homem é condição para sua atuação sobre a natureza. Na sua concepção orgânica, o pensamento poético é visto como uma planta, que, pela ação da imaginação, brota e floresce. A obra como planta tem o seu princípio interno, que é a sua semente, tem poder de proliferar idéias, ao se desenvolver gerando frutos, assimila qualquer elemento à sua matéria, como uma árvore cuja raiz suga os nutrientes do solo. O intérprete da obra recebe o convite de não só admirá-la, mas também de participar de sua gênese, integrando-se a ela e buscando dentro dela seus motivos e valores, sem remeter a interpretação ao que é externo à obra.



Espero assim chegar um dia a responder por que um homem com uma caixa de som amarrada nas costas é arte, porque é sim.




[1] Ronaldes de Melo e Souza.

Motivo Dor

A minha busca me rouba a fala e os sentidos. A minha busca é solitária, e minha voz, não será ouvida. Ela fica sendo minha, de minhas lágrimas, de minha dor e compaixão de mim mesmo, ela é só do meu grito interno. Ela ainda me faz sentir como se algo fosse: sou por que sinto a dor, a dor dela é minha motivação, a minha busca é sempre presente, cada letra, cada palavra, tem um tom que mais ninguém em toda a terra tem. O meu Eu não dá conta, a minha visão, o meu olhar, ainda que dilacerado, desfeito de mim – no sentido de procurar enxergar o que o meu Eu- sem -dor não veria- não pode dar conta de dizer a grandiosidade da minha busca e muito menos dizer, com palavras vivas, com palavras compreendidas por alma, o que quer dizer buscar para a minha solidão.

A minha busca me dá como resultado um coração colmado de negros raios de sensação de não-poder-superar. O meu ser jamais poderá explicar a covardia dos seres, o meu olhar jamais dará conta de dizer o porquê de devastar, o meu intelecto subracional não poderá jamais entender o mistério que há em sobreviver.

A minha busca tem o papel de me levar por caminhos presos a um tipo de realidade de onde não se pode sair. A minha busca me tem, às vezes, preso, sufocado, escravo acorrentado da realidade da qual se pretende desejar poder sair. A minha busca me tem a espera de que tudo não passe de mentiras. A grande voz anuncia que é tudo meu, que é tudo que experimentarei.

A minha busca se define desde que eu me sinta sendo Eu. A minha busca sempre será ainda que minha dor me invalide, ainda que a grande voz me diga por onde andarei, ainda que a minha busca não mais me deixe ver coisa alguma, ficar preso à realidade alguma, experimentar coisa alguma. Ela sempre será, minha, somente minha, busca.

A minha busca, não consigo dizer, porém será ela e o meu fôlego de solidão e vida a me levarem a momentos como este, em que se vive em vida de verdade, vida descoberta, vida desprovida de fingimento, vida que se arranca das entranhas de ser, vida que se tem em sua essência porque dói e é minha busca.

CENA I – sexo pra fazer as pazes



Hoje pude sentir, depois de uma perfeita noite de amor, como um sono calmo e tranqüilo pode fazer bem. Pude também analisar o sono de quem eu amo, reparando em cada suspiro, em cada movimento. Tinha certeza que meu dia seria perfeito... Já tinha começado! Fomos à praia, depois a um restaurante. Programamos de sair à noite, pois adoramos dançar, encontrar os amigos... No caminho as coisas começaram a não mais ser como o envolvente dia! Discutimos antes de sair de casa, pois eu não estava com a roupa do seu gosto, mas quando encontramos os amigos as coisas mudaram e tudo voltou ao normal. Dançamos, beijamos, rimos, conversamos! O lindo casal, como todos chamavam, era naquela noite exemplo para todos... Exemplo de simplicidade, cumplicidade, relacionamental e felicidade! Esqueci de falar que bebemos muito e isso veio a prejudicar depois de um tempo.

Na hora de ir embora saí na frente direto para o estacionamento. Quase fui atropelado por um carro, que rapidamente abriu a porta e foi conferir se eu estava bem. Quando me viu, ao sair do carro, me agarrou e me beijou! Lembrava daquele gosto, daquela língua, daqueles lábios... Abri os olhos e vi! Era um ex-amor! Um passado desaparecido, e até mesmo enterrado até aquele momento! Mesmo estando fora de mim, percebi que aquilo que estava acontecendo era errado, empurrei e pedi para que parasse. Estava mais fora de si do que eu.








Já cheguei em casa brigando. Discutimos, dissemos palavras que machucam, sem pensar no sofrimento que elas poderiam causar. Do nada veio tentar me bater, eu segurei e respondi com uma bofetada! Logo percebi que errei três vezes. Primeiro, contei sobre o acontecido no estacionamento. Nem tudo o que acontece devemos contar. Segundo, fui violento. Isso é sem comentários. E terceiro, mandei com que fosse embora de minha casa! Tudo isso sem pensar nas conseqüências! Chorei muito, muito, muito... Senti muito a sua falta! Até que um dia apareceu para pegar as suas coisas e quando abri a porta, instantaneamente uma lágrima correu. Agarrei e dei-lhe um beijo! O melhor de todos dado até hoje! O melhor sexo feito! Tudo com vontade, com amor, sentimento e tesão. O sexo pra fazer as pazes é o melhor que tem. A entrega é total!

Haicais d'água




Haicais cheios de Maresia


Haicai – I

Quebranto do mar
É atiçar os pés ávidos
Que teimam em passos


Haicai – II

As ondas rasteiras
Tecem um véu em renda branca
Sobre pés e pernas


Haicai – III

Um cheiro de sal,
Mar, marés e maresia
Cobre, despe e cala



Haicais para dias de Chuva

Haicai - I

Uma gota cai
Molha a folha torta e borra
Letras em vitrais


Haicai – II

Gosto acre tortura
Sendo assim a nuvem cospe
E não chora a chuva


Haicai – III

Depois destas palmas
O sol dorme nesta praia
Precipita a chuva

Jonny 21


Jonny, meu bem

Jonny dos meus sonhos

Jonny toca violão como ninguém


O Jonny da praça

Jonny que tem banda

Jonny que me abraça


Jonny sabe cantar

Jonny quer me conquistar

Jonny está na oitava série


Jonny gorduchinho

Jonny se acha feio

Jonny bonitinho


Jonny, fica mais um pouquinho

E bebe mais um copo de vinho,

Enquanto me mata de rir


Jonny de casa não quer mais sair

Jonny está triste

Jonny sumiu por uma semana

Jonny não me ama


Jonny sente ciúme

Jonny sente saudade

Jonny busca uma coisa

Chamada felicidade.

Morro em janeiro


Não viaje de cometa.
Prefira as estrelas.
Vá de encontro às montanhas.
Suba todas.
Desça todas.
Admire o Horizonte.

Na ausência do mar de águas
Conheça pessoas d’água,
Claras.

Familiarize-se com felinos.
Desapegue-se do ninho.
Fuja.

Coma queijo.
Experimente sentar-se à grama.
Use a câmera com pincel,
Não pose para fotos.

Permita ao tempo
O futuro da galáxia.

Você não soube me amar


Hoje eu descobri que sempre estive aqui
Sempre presente, sempre disponível,
Sempre, a todo tempo, esperando uma atitude
Sonhando com a sensação deste dia.

Dei dicas de como me agradar
Falei o que eu queria ouvir
Mostrei o que eu queria ganhar
Optei por você sem te esconder

Seu número nunca saiu da lista de chamadas
Seu cheiro me acompanhava
Inúmeras cenas de ciúmes
Eu sempre te bloqueava
Só pra te ouvir pedir
Pra te ouvir chorar

Oportunidades não faltaram
Fui vários pra te encantar
Minhas ações se calaram
Ao ver que não possuía respostas pra me dar

Dei as costas e voltei a caminhar

Sentiu diferença no meu olhar
Não adianta mais esticar as mãos
Não vai mais me alcançar
Dentro de pouco tempo
Serei apenas aquele momento
Você nunca ficou atento
Nem acompanhava o meu movimento
Agora distante dou um cumprimento
Sem observar seu rosto
Pra não sentir o teu arrependimento.

O Peixe


A menina tinha que cuidar do peixe por uma semana. A vizinha tinha viajado. Tudo o que a menina faria era dar comida uma vez ao dia. Nem trocar a água – ela disse. Mas, mesmo assim, a menina trocou.

Às vezes, parava com a cara na frente do aquário e ficava olhando o peixe. Pobre serzinho de vida limitada a um pequeno aquário, a servir de enfeite. O peixe assustava: Eita monstro sinistro de quatro olhos! Mas agora ele se acostumou. E a menina chegou até a pensar que o peixe gostava da companhia dela. Se sentia menos enfeite, mais ser vivo.

Então ela sentava no sofá, olhava como a sala era grande, olhava o peixe no aquário. O peixe, dono de vinte centímetros de água. E pensar que ele um dia teve um oceano...



Às vezes quando tudo parece perdido, desfrutável, sem sabor, inodoro; vê-se, ao final das esperanças, um "flash" e "zum"... Acontece. Banhado de reviravoltas e cirandas de rodas, ela, a vida, tão milagrosamente infalível, começa a girar. E gira, gira, contorna e parece que nunca perece.

E um sorriso brota no rosto infeliz e talvez o "Happy End" seja diferente daquilo qe se nunca quis. And love? E ele, o amor, como fica e, se fica, permanece? E talvez seja, apenas, mais uma história romântica ou, nem isso.

Um encontro do desencontro, mas talvez nunca se encontrem. Ou sim, e se sim, quando sim, aí pode-se sentar e dizer: "Que bela história romântica". E, nesse, caso, um olhará o outro, dos pés à cabeça, e agonizará uma poesia qualquer; e nela conterá, talvez, um beijo ou um adeus.

E que seja um beijo; um, dois, três, que seja uma confissão, um desabamento de lágrimas e carícias, e que tudo, mas, definitivamente, tudo possa ser como aquele sonho feliz que se acorda rindo e melhora seu dia todinho, sendo que nem ao menos consegue pensar em outra coisa que não seja o sonho, ou ela.

E que fique, talvez, morbidamente regozijante aquelas doces palavras que saem e voam, suspiram.

Deeper and deeper


Antes que se faça viva,
Toda a questão por traz da vida,
Colo com um beijo
O segredo sobre ela

A vida se resguarda.
Ela se apresenta.
E eu não consigo suportá-la.
Minha carne, meu sangue,
Isso sim eu sei.
Mas meus sentimentos,
Estes, já não sei.

Deixo que a vida resguardada,
E apresentada, me leve em seu vento.
Que me leve em suas ondas.
Que me leve em sua soma.
Sua soma de amor e confusão.
Em sua soma de guerra e comunhão.

Ainda peço aos deuses
Que me tragam mais virtude, mais
Consciência,
Lucidez,
E avidez.
Pra fazer de meu viver algo
Mais racional que eu mesmo seja.

Não, não preciso viver
Tudo que se resguarda.
Mas preciso ir deeper and deeper.
Mais longe que os aléns.
Mais longe que a jornada mais cansada.

Preciso repensar o que estou por fazer.
Nessa hora tão confusa.
Vejo a luz que, difusa,
Me pergunta a que horas
Partirei.

Respondo a grandiosa luz
Que a partida
Sobejais a uma das somas da
Vida
Coragem e libertinagem

Recriminarão eu sei.
Mas a coragem que busquei
Há de ser o que pensei
E há de fazer o que não sei.

A Morte como desejo

Sinto o vazio!
Perdi algo que não identifico o que é.
Por mais que ainda sonhe,
a realização está mais longe
do que quando tinha 18 anos.
Lembro-me dos 18 anos!
Tudo parecia estar começando,
se abrindo diante de meus olhos,
assim, pertinho...
E agora?
Medo
de perder a esperança:
"um homem sem esperança
não é nada!"
Odeio o nada;
parece explicação fajuta
para alguma coisa.
Nunca pensei sentir-me tão mal.
Mas sentir
é a comprovação de que estou viva.
Então sinto:
sinto a dor,
o desespero.
Sinto a vida como erro
e a morte
como desejo!

Em banho maria



gosto de alguém
que apenas me trata bem.
me liga, me manda mensagem,
diz que está com saudade
e esquece do meu aniversário.

gosto de alguém
mesmo não querendo gostar.
me beija, me abraça,
me deseja, me enlouquece
mas não me quer.

gosto de alguém
que sabe me olhar
mas não sabe me sentir
e muito menos me corresponder.

gosto de alguém


Abertura nas paredes

Interrupção de um ruído
Espaços em branco
No terreno que ladeia
Uma corrente de água
Indivíduos silenciosos
Descrevem traços paralelos
Num misto de margens e silêncios
O que deságua no mar é turvo

Às vezes uma palavra pode mudar tudo
Tem perguntas que são respondidas pelo olhar

Há segundos que demoram horas pra passar

Um minuto que não deveria ter existido

Um momento que deveria ser esquecido


Eu escrevo histórias sem ponto final

Coloco pontos no lugar de vírgulas

Mesmo quando uma vírgula não cairia mal

Existem frases que não tem hora marcada

Tem horas que o coração bate mais forte

O arrependimento só vem em hora errada

Acho que estou apaixonada