Nasci em janeiro. Em algum lugar na Tijuca. E desde cedo eu procurava. Fui para Ipanema ver se estava lá. Gringo, gente de sangue azul, arrastão, posto quantos. Briguei com a praia, ela não tinha vento para me dar. Nem no Arpoador, que fica tão lindo em foto, tão feio em vida. Fechei os olhos. Jurei que vi uma baleia. Não, não estava lá.
Fui ver se estava na Barra. Só achei coisa mesquinha. Tentei me encontrar no funk. Até bebi um gole de bossa nova. Estava me apaixonando pelo Chico, mas cantei com a Fernanda Abreu. Me levaram para a Portela. Mas nem o samba deu onda. E eu continuava procurando.
Me escondi por uns tempos na Lapa. Por alguns minutos achei que tivesse encontrado. Hipies de calçada, criança de rua, cheiro ruim, cheiro de pobreza, beleza de rio antigo. Nunca subi no bonde para Santa Tereza. Ao invés disso, corri pela escadaria. Já tentei ser flamenguista. Não gosto de futebol. Onde? Cadê?
Eu chio muito. Isso às vezes irrita. Uma vez me chamaram de carioca. Eu não uso fio-dental na praia, nem vou ao Maraca no domingo. Guardei uma foto do Cristo. Não sei por que, mas passei a vida inteira sentindo falta.
2 Recados:
Que belo texto!
Me identifiquei muito com suas palavras!
beijos.
Acho que se esse comentário for, como você mencionou muito serena lá no Gestos, assim como uma entrelinha no seu post, ele vai entrar na posição secreta, na posição-enigma de entrelinha da entrelinha. Sim, porque você já deve estar percebendo que a palavra é um leão de sempre, mesmo que não tenha disso a menor noção (mas apostaria um poema que tem). E o que isso quer dizer eu creio que já tenha dito e que você já entendeu, por mais que com o corpo, já que com o corpo é que se entende bem e, sobretudo, é com ele que se escreve bem porque, e isso eu digo com a maior segurança e loucura, as ideias por demais gigantes são por demais sem gosto, parece que não têm recheio, enquanto o corpo, concreto em tudo, sem linhas abstratas ou traços de percepção boçal, o corpo é uma flecha que o seu texto lança pelo arco da procura. E o corpo acerta o corpo da gente bem na carne!
Lindo, Liza!
Gostei muito... ou melhor: Gostei para caralho desse texto!
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