A felicidade pode ser várias coisas, e coisas diferentes para cada pessoa.
O cara senta no sofá, come pipoca no copo de café, lava os rosto com bombril e vai até a rua comprar jornal, mas só se for a parte da tv, já se aborreceu várias vezes com o homem do balcão, não curte esportes e pra ser grosso e sincero ta cagando pro que rola lá fora...
O cara não tem um prato limpo em casa, e as roupas tão cheirando naftalina.
O cara levanta da cama de um pulo só, dá bom dia aos passarinhos,insetos e vizinhos, e toma suco de goiaba sem agrotóxicos. Toma um banho de ervas e vai até o mercado abastecer a dispensa.
O cara é metódico e cheira a talco.
A “mulé” é herdeira de uma puta herança é a reencarnação da madre Tereza. Vive a fazer trabalhos voluntários, das jóias que tem, só guarda o colar de sua falecida mãe como lembrança, de resto é sandália rasteira no pé pra agüentar as caminhadas rumo aos necessitados.
A “mulé” é lascada, e tem um rei na barriga, conhece todas as marcas de roupas e sapatos, e mesmo assim não sabe quanto custa um pacote de arroz. A última vez que fez alguma coisa por alguém ela tinha seis anos e foi forçada por sua mãe. A barriga ronca... mas os pés calçam aquele sapato idêntico ao de Valentim!
Os dois homens chamam-se Ernesto e não são opostos que vivem em lugares diferentes, são opostos que vivem dentro do mesmo espaço de corpo humano, pois Ernesto que cheira naftalina e Ernesto que cheira a talco são a mesma pessoa. O mesmo se dá com as duas mulheres: Duas Fernandas dentro da mesma.
Do confronto diário, brotando o descontrole de si, eles desfrutam da oscilação de certo e errado,simples e prepotente,ausência do triste e ausência do feliz,da euforia a depressão, da contradição a certeza.
E são felizes e miseráveis...são deuses cheios de si e humanos.
Das dúvidas que tem é instintivo saber que a sensação de felicidade brota quando fazem-se ingênuos e desbravadores de tudo quanto fosse singelo ou óbvio.
Das certezas que jamais chegarão a carregar o que ficam são sensações...momentos pelos quais nos tornamos responsáveis e que nos remetem ao gostinho de felicidade.