A incógnita do mar da morte


Em nossa época, vende-se a ilusão de que é possível controlar com pílulas sentimentos tão intangíveis como a melancolia ou a tristeza, prender a juventude à força de bisturis e cosméticos, prescindir da tradição e construir-se a si mesmo sem dever nada a ninguém.


A morte nos lembra que há algo de errado nesta equação.


Podemos transformar o corpo, mas não evitamos que ele morra.


Podemos decidir entre marcas na prateleira, mas não decidimos deixar de morrer.


Podemos fazer nossas próprias regras, mas entre elas não está viver para sempre.


O ser humano, o ser ‘pensante’ tenta controlar o universo, sempre evoluindo em suas descobertas, mas a morte nos confronta com a questão fundamento do nosso limite.


Ela é o limite, barreira intransponível.


Esse desconhecido gera inúmeras questões e infinitas teses.


Alçamos vôos inacreditáveis, mas ainda não conseguimos mergulhar nesse mar de incertezas.


O tempo da morte não corresponde ao nosso, em alguns casos conseguimos entender esse cronograma peculiar, mas este calendário não contém ano, meses, semanas e dias...


Só sabemos que existe um início e um fim.

No Donut For You


A billion years ago, we all wanted something and we did not know what. Then we walked in our way to technology. And here we are, a post-modern civilization and our speeches now are consequence of the discharged information downloaded. But what do we really want to do with it? Watch cable TV? Read the newspaper? Chat with friends? Check our scraps on Orkut? We want nothing but it all. And if we can do everything simultaneously, we do it.

Yes, there is too much useless information, too much porn available, too much spam, everything just one click away from you. But there are also good things about technology and specially the internet, you have a whole world at your fingertips, and a whole life to explore it. So please do not get so obsessed. Because that is the real problem here, obsession, technology will not ruin your life, but it is not as good as you think neither. So take this world wide web in front of you and think of what you can make of it.

Online for chat?

Fairy tale






Como carros, como moinhos, como grandes rodas gigantescas. O meu esforço o meu trabalho em ser. O girar não é só a metáfora do ciclo, ou do labor. O girar também é a visão da prisão, da incapacidade para o escape. Como se estivesse sendo centrifugado e que agarrado às paredes eu não posso me mover, tampouco escapar.

Da maneira que acontece o girar, também acontece o meu na poder escapar. Lembro-me até do dia em que as rosas espinhosas de um jardim ganharam vozes e, de seu canteiros, me encantavam com seus falares. Elas, bonitas e cantoras, me atraíam. Porém a atração dependia muito mais da minha vontade de ser atraído. Seduzido pelo canto estava eu agarrado a seus espinhos. Olho o meu braço e ainda reconheço cada ferida, cada uma corresponde a um espinho cravado em minha carne. Não há espinhos presos em mim. Há a mim preso a espinhos.

Quando observo o planeta que gira, ganha luz ou sombra, me observo de frente ou de costas para o meu pensamento. Quando estou de frente me sinto escuro, pensamento não é minha luz. Quando de costas, estou claro e iluminado. Iluminado e feliz por saber q meu pensamento foi encoberto. Nesse caso o girar me liberta. Sou livre do pensamento que me prende longe do que o pensamento não pensa e não dá conta de explicar. O êxtase desse momento está em estar no escuro, só as estrelas bem longe, cujos raios não me alcançam.

Não quero ser como o ciclo, muito menos como a roda gigante ou a esteira cujos girares não as levam a coisa alguma. Meu girar tem de ser com uma vontade que me leva adiante e me faz até cair. Mesmo que caia na pior das armadilhas, da qual nem se pode falar, quero cair.

Como estou caído agora. O ciclo me levou a um não estar-sendo-eu por conta de não saber do que se tratava a vontade. Deixei meu pouso, deixei de repousar e fui ao mundo saber do que se faziam as vontades. Encontrei com a vontade maximizada. A vontade da qual muitos não podem escapar.

Eu, não a reconhecia. Me sentia indigno de tê-la então. O mundo de vontades é um mundo de impulso, não é como um mundo que gira. Sentia meu peito apertado e os sentidos aflorados. Como Alice, meu coração diminuíra de tamanho e meu corpo se tornara enorme, ele preenchia todo espaço da vontade. Ele era a vontade e o meio pela qual a ela mesmo se faria. O coração é minúsculo, porém não está inerte.

Enquanto se preenche e está preenchido, como o balão, o peito fia frágil como se dentro do globo houvesse um sino a sacudir e que ao mesmo tempo em que dança, soa. Ele soava e me familiarizava eu estava todo lá. Toda a minha vontade era aquela.

O meu corpo de Alice se tornara o corpo de um pequeno João preso à gaiola enquanto engorda pra servir de jantar. Meu corpo está magro agora. O sino me absorvera. Não tinha mais o peito minúsculo. Tenho a as mãos esticadas para fora a mendigar o que sobra do almoço.

A gaiola gira porque está pendurada pelo topo no teto. Ao girar me vejo, por algum tempo, de frente para o espelho que me diz o quanto preciso estar fora dali e alcançar o banquete servido à mesa. O espelho me revela, magro, sujo, desprovido de mim.
O girar da gaiola me faz ver também a janela, e todo o muno que há nela. A janela é a vontade, é a antítese da armadilha. Quero me livrar, porém caio novamente

Eu





sou muitas coisas ...
solto pérolas pelo ar ...
alguns amigos adoram catar pra divulgar ...

adoro ler, escrever, me comunicar
não vivo sem música, é o meu ar
não conto piadas, mas faço palhaçadas
não sou de chorar
se quiser rir fale comigo
a melhor coisa é me ter como amigo

tento ser menos aventureiro
tenho que parar de me arriscar
não gosto do silêncio
sempre penso em mudar

não tenho vergonha de mim
me mostro sexy, sujo, doido
tenho muitas teses
crio as sem pensar

sou como as ondas do mar, na sobriedade
sempre a mesma coisa, estável
sou como as nuvens no ar, na cachaça
mudo a cada olhar

sou esta merda de pessoa
merda pra você, bosta!

A Confissão


No carro, voltando para casa, ele jurava para si mesmo: De hoje não pode passar. Fazia tempo que queria contar tudo para ela, mas tinha medo. Medo não só da reação dela, mas medo de si mesmo, medo de ficar sozinho.


Na primeira vez, prometeu para si mesmo que não aconteceria de novo. Foi só uma experiência, uma aventura, parte da crise de meia-idade. Mas lá estava ele de novo voltando de mais um encontro noturno secreto. E em casa a mulher a quem um dia prometeu fidelidade o esperava.


Deixar a esposa estava fora de questão, implicaria deixar todo um estilo de vida, do qual ele até gostava. Não poderia deixar aquele bairro, aquela casa, seus amigos casados e o futebol de domingo, as conversas sobre como filhos dão trabalho, levar os filhos na escola, não poderia perder o beijo de boa noite de seu caçula. Mas existia esse sentimento que o corroia por dentro e que fazia com que tivesse raiva ao olhar para sua mulher. Como ela não percebia que algo havia mudado? Como viver com esse peso de ser o vilão da história? Como deixar de amar minha esposa?


Chegou em casa e, enquanto a esposa estava na cozinha, o filho mais velho estava na sala ao telefone. “Desliga você primeiro.” Jovens e suas juras de amor eterno. – Pensou. Como era boa essa época em que se prometia para a namorada nadar todo um oceano só para ficar com ela. E agora ele se via ali, incapaz de não trair. Porque tudo o que precisava fazer era não trair, não olhar para a secretária no escritório nem para as meninas de biquíni na praia, não beber tanto, não dar ouvidos a amigos machistas, cumprir seu juramento. Agora era tão difícil. Deu um beijo na bochecha dela e foi tomar banho.


A água fria caía e ele continuava a jurar para si mesmo que tudo acabaria hoje. Contaria toda a verdade e depois imploraria por perdão. O importante era tirar aquele peso da consciência. Sentia a cabeça pesada, um pouco tonto. Quase tremia de tanto medo. E se ela não perdoasse? E se ela o mandasse embora na mesma noite? E se ele perdesse todos aqueles anos de casamento feliz? E pensava em milhões de castigos físicos que poderiam ser melhores que isso. E concluía: Ela me ama, me perdoa.


Sua única certeza era do amor, não só dela por ele, mas também dele por ela. E, se não fosse o amor, não estaria querendo contar a verdade. Se não fosse o amor, continuaria mentindo. E, se não fosse o amor, mesmo que ela desconfiasse ou até que descobrisse, negaria tudo. Mas o amor estava lá. E ele confessaria.


Quando saiu do banheiro, o filho já tinha deixado o telefone e ido dormir, e a mulher apagava a luz da cozinha e se dirigia para o quarto. Era agora. Deitou-se ao lado dela. Abraçou-a, beijou seu ombro. Suspirou fundo, ia falar.


- Querido, eu sei. – Ela disse.


E foi então que ele percebeu que ela também tinha medo.

Diga a eles, Zezé


Doutor, eles estão em toda parte.

Estão à porta, ao telefone e tudo mais.

Não param de perguntar!

O que digo?

O senhor confessará?


Diga assim Zezé:

As coisas estão mudadas.

As coisas estão um pouco diferentes.

As coisas ainda vão mudar mais.


Grifa isso de mudar mais, Doutor?

Grifa.

Continua?


Continua:

As coisas, definitivamente, não são

Mais as mesmas.

Diga mais:

Não pretendo conseguir a maioria.

Não pretendo ser acolhido.

Não pretendo o combate.

Pretendo o “serlivre”.

Pretendo ceder ao trocadilho.

Pretendo fazer de espinhos,

Um buquê.

Agora, você vai dar detalhes:

Acordei tarde, tive pesadelos,

Senti medo e fome.

È melhor não dar detalhes, Zezé.


Sim doutor.


Faça o seguinte, não dê detalhes.

Pergunte:

O que acham que há de ser?


Mas será que o Senhor há de gostar das

Respostas?


Diga a eles que não me importo.

Diga a eles que pode ser só fagulha

Diga a todos, todos eles, que já é farta a caminhada.

E repita a eles que confessarei.

Porém não ouse dizer, que penso em hesitar.

Não vá mencionar, o lacrimejar de minhas pálpebras.

Não vá falar da vontade de voltar atrás.

Não diga que sou fraco.

Não quero parecer fraco.

Não sou fraco.

De definitivo, não sou como sou EU.

E pare por aí.

Se perguntarem algo mais,

Diga-os que sumam.


Tudo bem, assine aqui doutor.