Como carros, como moinhos, como grandes rodas gigantescas. O meu esforço o meu trabalho em ser. O girar não é só a metáfora do ciclo, ou do labor. O girar também é a visão da prisão, da incapacidade para o escape. Como se estivesse sendo centrifugado e que agarrado às paredes eu não posso me mover, tampouco escapar.
Da maneira que acontece o girar, também acontece o meu na poder escapar. Lembro-me até do dia em que as rosas espinhosas de um jardim ganharam vozes e, de seu canteiros, me encantavam com seus falares. Elas, bonitas e cantoras, me atraíam. Porém a atração dependia muito mais da minha vontade de ser atraído. Seduzido pelo canto estava eu agarrado a seus espinhos. Olho o meu braço e ainda reconheço cada ferida, cada uma corresponde a um espinho cravado em minha carne. Não há espinhos presos em mim. Há a mim preso a espinhos.
Quando observo o planeta que gira, ganha luz ou sombra, me observo de frente ou de costas para o meu pensamento. Quando estou de frente me sinto escuro, pensamento não é minha luz. Quando de costas, estou claro e iluminado. Iluminado e feliz por saber q meu pensamento foi encoberto. Nesse caso o girar me liberta. Sou livre do pensamento que me prende longe do que o pensamento não pensa e não dá conta de explicar. O êxtase desse momento está em estar no escuro, só as estrelas bem longe, cujos raios não me alcançam.
Não quero ser como o ciclo, muito menos como a roda gigante ou a esteira cujos girares não as levam a coisa alguma. Meu girar tem de ser com uma vontade que me leva adiante e me faz até cair. Mesmo que caia na pior das armadilhas, da qual nem se pode falar, quero cair.
Como estou caído agora. O ciclo me levou a um não estar-sendo-eu por conta de não saber do que se tratava a vontade. Deixei meu pouso, deixei de repousar e fui ao mundo saber do que se faziam as vontades. Encontrei com a vontade maximizada. A vontade da qual muitos não podem escapar.
Eu, não a reconhecia. Me sentia indigno de tê-la então. O mundo de vontades é um mundo de impulso, não é como um mundo que gira. Sentia meu peito apertado e os sentidos aflorados. Como Alice, meu coração diminuíra de tamanho e meu corpo se tornara enorme, ele preenchia todo espaço da vontade. Ele era a vontade e o meio pela qual a ela mesmo se faria. O coração é minúsculo, porém não está inerte.
Enquanto se preenche e está preenchido, como o balão, o peito fia frágil como se dentro do globo houvesse um sino a sacudir e que ao mesmo tempo em que dança, soa. Ele soava e me familiarizava eu estava todo lá. Toda a minha vontade era aquela.
O meu corpo de Alice se tornara o corpo de um pequeno João preso à gaiola enquanto engorda pra servir de jantar. Meu corpo está magro agora. O sino me absorvera. Não tinha mais o peito minúsculo. Tenho a as mãos esticadas para fora a mendigar o que sobra do almoço.
A gaiola gira porque está pendurada pelo topo no teto. Ao girar me vejo, por algum tempo, de frente para o espelho que me diz o quanto preciso estar fora dali e alcançar o banquete servido à mesa. O espelho me revela, magro, sujo, desprovido de mim.
O girar da gaiola me faz ver também a janela, e todo o muno que há nela. A janela é a vontade, é a antítese da armadilha. Quero me livrar, porém caio novamente