Construindo sonhos

é pra falar de estrelas?



O sol da tarde estava escaldante. Miguel não suportava mais trabalhar daquele jeito.
- Vamos logo com isso Miguel. Já está na hora de ir pra casa. – Gritou Fernando.
Durante o caminho de volta à vila, os dois amigos conversavam. Miguel mais olhava o céu do que seu amigo. As palavras não lhe atraiam a atenção, não mais do que o céu estrelado sobre suas cabeças.
- Essa tal de São Paulo vai ser uma grande cidade. Você não acha, Miguel?
- Ah?! Ah, sim. Claro! – Depois de um breve silêncio, comentou. – Fernando, por que a gente não trabalha de noite?
- De noite? Que moléstia você tem, Miguel? De noite é escuro, não dá pra trabalhar.
- Mas as estrelas são tão brilhantes. Poderíamos trabalhar apenas com a luz delas. Aí, a gente não ia se cansar como se cansa de dia. E a gente pode se inspirar olhando o céu.
- E desde quando gente como nós precisa se inspirar, Miguel? Nosso negócio é levantar parede, muro, tijolo, fazer caminhos e outras coisas. Inspiração é pra burguesia, pra artista. Inspiração é pra aqueles que vão morar nessa São Paulo.
A conversa terminou, e ambos seguiram para suas casas. Eram humildes, mas estavam recebendo uma boa refeição e alguns tostões pelo serviço. Faziam parte de uma seleta mão-de-obra, responsável pela construção de uma grande cidade; da nossa São Paulo.
No dia seguinte, Fernando chamou Miguel, que preferiu ficar mais um pouco. Mas esse pouco durou a noite toda; noite, em que Miguel ergueu um comprido muro. O trabalho noturno tinha rendido, e não seria capaz de fazer tudo aquilo nem em dois dias de trabalho duro.
- Miguel. Você fez esse muro sozinho durante a noite? – Perguntou Fernando ao chegar no local de trabalho.
- Fiz sim. – Orgulhou-se. – Trabalhar de noite é melhor, mais calmo e com mais paz.
- E por que fez esse muro? Ele não vai servir pra nada.
- Serve sim Fernando. Ele pode servir para observar o céu. Ver as estrelas.
- Mas a cidade vai crescer. Talvez não seja mais possível vê-las. Ele vai ser esquecido no meio dos grandes casarões.
- É verdade. – Respondeu Miguel entristecido. – Talvez as pessoas se esqueçam de olhar para o céu.

...

Hoje aquele muro ainda existe. E é nele em que eu olho para o céu e vejo as estrelas.

1 Recados:

Davi Leitão disse...

Eu continuo lendo, então continue escrevendo...

abraços

Davi