Ali deitada do teu lado vi um horizonte. Algo como uma linha fina, um traço quase invisível que separava esse mar de águas paradas e o céu, azul mas sem pássaros. Talvez fosse a tua culpa.
Ali deitada na tua cama, sentindo o cheiro do teu cabelo, avistei essa rachadura no teto. Esse céu sem estrelas que se estende sobre nossas cabeças e que agora nos oprime nesse mês de julho. Pobre de meu céu, testemunha das constelações que criamos. Agora a rachadura. Talvez fosse o concreto cedendo aos poucos, formando goteira.
Me levantei. Na ponta dos pés, com a ponta dos dedos, podia segurar a rachadura. Enquanto você, ali deitada, dormia um sonho ainda mais distante que o meu e nem desconfiava do que acontecia na sua própria cama. As gotas se formavam ao redor da ponta dos meus dedos. Escorria lágrima dos meus olhos. Doces ou amargas, as águas se misturam. Cada gota, uma a uma, percorria os meus dedos. Eu não sabia mais por que ainda tentava. Mas não podia deixar chover sobre nossa cama. Não podia. De repente, o horizonte, cada vez mais perto. E a tormenta que afunda o nosso barco. Talvez fosse o meu medo.
Você, mocinha em apuros, e aquele pirata te levou embora. Sozinha nesse mar, eu só tinha essa linha e essa rachadura. Cansada demais, soltei e me deixei cair na cama, deitada do teu lado. E esse céu que desaba água sobre o nosso pecado. Talvez fosse esse amor pela metade.
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Cansada demais, soltei e me deixei cair
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