Sacia-me


Início da pintura:

Uma folha costurando os contornos, fruto da colheita poética. Na boca, poléns (dai-nos um pouco mais do vermelho), fuxicos coloridos.
Momentos em que Deus mostra nossas costuras, só pra se ouvir dizer: - Da arte queremos também o verso! Um desses sonolentos, atrevidos, temperados de insanidade.
Todos os pincéis-borrados.
- Pensamos não inspirar.
Escrevemos o que a nós não pertence. (Adentrem na pimenta de nossos verbos mais sarcásticos).

Olhamos para o chão e não suportamos a idéia de ter pés fincados em um branco tão desbotado.
Já estes versos do artista, são sempre errantes. Mas, a arte em si tem formas de nuvens presas. (Soam vôos absurdos).
Diante da arte, nesta roupagem pálida, conformo-me em ser um “nada”.
- Não há injustiça maior que justificar um artista atrofiado.

A arte é umbigo do ventre terra que nos pariu.
-Deixo de interpretar paisagens.Somos apenas o palco da obra.
Abra mão de significados cultos e ocultos. Consagra-se arte em incompreensão calada.
A arte fica exposta na eternidade que sempre reinventamos. Arte exposta: - visitantes de nós mesmos.

Os versos estão entranhados nos dedos. Frio: manifesto-Esculturas indefinidas. –Não compreendemos possíveis olhares.
- Pintamos quando o retratado eclode.
- Decodifique arte. Ânsia do encanto poético-humano.
Todas as artes emergindo das indefinições. Se não vemos o amarelo, tampouco criamos o verde.
Ainda assim, estamos acesos.

Estar vivo é um estado de arte.

O grande artista guarda o sol no sono. E se escreve, escreve no vento.
Doce beijo vira prosa.
A arte, por vezes nos pega no colo, mostrando-nos os grandiosos caminhos subjetivos.
Traduz transcendente em movimentos artísticos no qual nosso espírito pelo infinito dançou.

Arte definida é violação.

A arte grita: - Sacia-me!
O tesão que o outro sente, agrada ou enoja.
A arte ferve: São de palavras que arrepio.
Os poetas sofrem de um tédio aparente, de uma ansiedade criativa.

A arte não poupa papéis. Antes, renova-se em madeira, amor e aço.
Diante de certos olhos, os papéis pouco dizem. Mas, estes poetas escrevem no escuro.
Felizes os que não prevêem nada. Estabelecendo a imprevisibilidade da arte.
A arte rompe as rédeas que não lhe pertencem.

Atemporal. Abraça quem a estiver contemplando.

Por vezes, encurva-se para ninguém ver. Esta que pincelada ganhará a tonalidade única que lhe garante o direito de ser poluída por deuses ferozmente humanos.

- Não nasci para ser entendida. Resmungou a arte.

3 Recados:

M. D. Amado disse...

E a arte segue insaciável diante de obras como a sua. Você a deixa mal acostumada e sempre querendo mais.

Por causa de grandes artistas e promessas, como você, a arte nos exige mais. Pobres de nós que temos que nos esforçar mais e mais...

Parabéns Nat!

Débora Andrade disse...

"A arte ferve: São de palavras que arrepio.
Os poetas sofrem de um tédio aparente, de uma ansiedade criativa."

Sempre incrível, linda! Conseguindo traduzir grandes sentimentos em palavras!!

Leonardo Pezzella disse...

Sem palavras!!!! Como sempre, seu texto é arte... não importa o tema.

Parabéns por falar a língua da arte!!!

bjos,
£!