Tua Música


Eu, instrumento

Teu amor

Em acordes

Teus dedos delicados

Corda em corda

Deságuo em dança

Me toca

Sonoridade


Estéril rádio estação sem-luz
O teu suor é surdo
E eu já sou feita de espasmos melódicos
Da folha: cantiga
Assobio borboleta, grande festa de girassóis quadrados
Caindo a desaguar sonoridades
Desta música sombra universal

-Parece que se você ouve o canto, é inevitável ir parar no fundo-

Uma marchinha de carnaval: carnavalizando o sumo da vida
Grite. Você não vai ouvir mais nada
Impregnado bloco de frevos das células ciliadas
Dedilhando os coros eufóricos
As partículas propagam quando o canto é por chuvas dançar
A valsa é humana

Preciso de sonoridade
Esta ânsia que troca músicas e tons
Saberei cantarolar descompassos em dó maior
Há de nascer imune quem não souber ouvir

Dos braços que embalam o bloco, em que batida se escuta o tom exato?
Musicalize o óbvio
Corpo-coletivo colhe ativo
Quando ouço aquele tom, os poros se arrepiam.
E canto das suburbanas bêbadas razões insanas

Vendo o ritmo-meu pagamento é dívida
Grandes olhos quando a canção é do povo
O coro sai das casas, leves, pesados e desequilibrados.
Coloquei para fora uma voz grave, queria ter soltado Buarque de sua prisão
Nestes tons- inúmeras possibilidades:
As enzimas criativas do amanhã.

Olha a ventaniaaaa!

“Tomba pra cá,
tomba para lá.
Fala com pessoas que,
nem sempre estão lá.

Um olho pra esquerda,
o outro pra frente.
Sempre trazendo um sorriso,
mas quase sempre sem dentes.

Arrota e peida.
Coça o saco e xinga.
Se fosse uma planta, eu diria:
“Xi, essa não vinga!“

Conversa com todos,
Não tem vergonha de nada.
Quando não está dormindo,
Está fazendo alguém dar risada.

Alguns sentem pena,
outros fingem não ver.
Mas todos queriam ser pinguços,
Para cair de tanto beber...”

HomoLabirintus


































Você sabe que está aqui por um tempo limitado.

Mas o trabalho, o relatório de quinta, o curso de terça a noite, o passeio com os cachorros aos sábados e a empada de domingo te fazem esquecer de tudo quanto fosse existencial. Daí, pra você só existe o quanto você está atrasado para a prova da faculdade e como aquela calça que você ama está justa nos quadris.
Assim, sucessivamente amanhã só existirá a conta de telefone que veio um absurdo, diga-se de passagem com ligações para o Marrocos...- Marrocos?
Agora, você está sem a calça que ama e com o iminente pepino de processar a Telefonia.Então vai dormir "pê da vida".
Novo dia, novos pensamentos: no trabalho você hoje produziu bem, tirou ótima nota naquela prova da faculdade, agora está tão bem que até a calça entrou numa boa. Ficou feliz e até desistiu de processar a Telefonia.
Amanhã será outro dia...e depois mais outro...
A cada dia os que te cercam, você mesmo e a vida vão se encarregar de "fluir" rumo a novos acontecimentos. Por isso, terão dias em que ver um moleque cheirando cola na AV Rio Branco vai cortar seu coração, e outros, que nem mesmo um orfanato inteiro rogando ajuda vai fazê-la diminuir os passos rumo ao ponto de ônibus.
Dias atrás e outros mais adiante, você irá refletir o quanto o mundo é injusto e desigual e que as pessoas precisam fazer algo para ajudar...é aí que você planeja virar monge e sumir de toda essa "coisa" louca, mas depois você descobre que ama esfirra e MC lanche feliz juntamente com todo "conforto".

De repente, você leva um susto...perde um amigo, um parente ou um cônjugue. Isso acaba com sua vida. Mais do que nunca,você está certo de que não quererá mais viver.
Decide começar por parar de comer, no entanto, quatro horas depois lembra de sua gastrite e come na tentativa de aliviar o "incômodo". Mas agora, com certeza você irá olhar a vida com "novos olhos", irá valorizá-la muito mais, aproveitando cada momento com cada um a sua volta,sim! Até as formigas serão exaltadas e respeitadas em sua nova fase!
Você jura que teria feito isso se dois dias depois aquele mal educado do porteiro a tivesse cumprimentado... talvez assim você o odiaria um pouco menos.
Por fim, você reflete o curso de sua vida: O quanto ela passou depressa e você ainda não conseguiu se purificar.
Não virou monge, não dedicou-se aos pobres, não fez voto de castidade, não fez nada!
Nem as orações infiel que é consegue concluir, pois dorme antes de cada amém.
No auge do desespero você clama: - Senhor o que farei?
Nenhum som é ouvido...
Na Tv ainda ligada, Marta Suplicy aconselha: Relaxa e goza...

Você ri...
A vida é doida mesmo...quem diria que ao invés de Buda, Padre Marcelo Rossi ou Oxalá a luz viria de Marta.

Saindo do poço


Andei pensando na culpa, e na desculpa.
Pensando nas dores e nos desamores...
Me culpo...
Por pensar e acreditar que é você minha salvação.

Estou no fundo do poço,
Olho para cima e vejo mãos...
Querem me socorrer...
Mas entre tantas, só reconheço a sua.
São só as suas que eu quero ver.
Mas você vira as costas.
Quer ficar só.
Sim, se preocupa comigo ali no poço...
Mas nada pode fazer.
Suas mãos não querem alcançar as minhas.

Não quer laços ou "nós".
Enquanto as minhas, só pretendem alcançar as suas...
E eu não me canso.
E de cair tanto,
Minhas feridas já não doem mais.
E por tanto esperar,
As outras mãos estendidas outrora,
Se cansaram, foram embora.
E não há mais em quem me segurar.
Agora sou eu.
Eu e minha solidão no fundo do poço.

Eu e minhas feridas ainda abertas,
E já tão anestesiadas pela própria dor.
Eu e minhas garras,
Que saem de não sei onde...
Devem sair das entranhas da saudade.
Ou da frieza do abandono.
E eu escalo o poço...
Subo, subo e subo...
Saio de lá...
E me ponho de pé.

E a vontade de viver e ver o sol é tantaque não reconheço o cansaço.
Estou salva, agora.

Com unhas desfeitas, sem gloss, sem rímel.
Mas estou de pé e meus olhos brilham...

Encontrei algo no fundo do poço.
E trouxe comigo para ver o sol.
Para estar comigo sem se ocultar:
A força que antes eu pensava vir de você.
Não me avisou que ela estava o tempo todo em mim.

Logo você que sempre soube de tudo.
Passei tanto tempo no escuro e no frio.
Que desfiz as amarras dos meus sonhos.
Enquanto nada tinha a fazer senão sentir o frio...
E nada ver no escuro, a não ser a sua imagem que eu projetava como luz.

Os sonhos agora podem ultrapassar as barreiras que cercavam você e eu.
Destruí as grades que prendiam minha força,
Meus desejos e minha felicidade.

E o que antes eu pensava encontrar só em você,
Encontro agora nas minhas unhas sujas,
Nos meus cabelos desfeitos, e até nas dores musculares causadas no escalar do poço.

Sem as suas mãos, confirmei que eu consigo sozinha.
E afirmei que elas não mais estão dispostas às minhas.
E ainda assim,
Seguirei sorrindo, feliz...

Disposta a encontrar o que eu denominei felicidade!